quarta-feira, 4 de abril de 2012

Íntimo

E quantas vezes minha maquiagem de palhaço borrou naqueles corredores brancos e tristes. Quantas histórias eu ouvi de seres que pareciam nem ter mais voz. E quantos sorrisinhos me marcaram, e quantos abraços ainda me seguem. Cansei de chegar tarde da noite, exausta, sem forças e sorrir, quando lembrava dos meus pequenos naqueles leitos que abrigavam tantas histórias. A vida de quem faz trabalho social em hospital não é fácil, e isso eu enfrento desde cedo. Dar a mão quando você acha que não há luz, engolir as lágrimas e ser a heroína até daqueles pais fortes, desesperados. Aprendendo a agradecer silenciosamente, a rir diante dos berros e a contar estórias com a voz trêmula, pequena, atingível. Eu olhava as situações e queria dar mais que um afago, um doce, um livro. Queria ser tudo em uma, quase a Mulher Maravilha. Mas o máximo que eu fazia era segurar o choro, correr pro banheiro e retocar a tinta guache no rosto. Já dizia Antoine Saint 'tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas'. Eu havia cativado aqueles pequenos, e nós éramos um só agora. Haviam dias que eu fazia vezes de psicóloga, segurava lágrimas gordas de mulheres que tinha a alma arrasada. O medo, a vergonha. Quando eu saí debaixo da asa da mamãe e escolhi esse lado, descobri que não sabia o que era dor. Meu medo do escuro tornou-se banal e eu ganhei novos olhos.
Agora eu preciso correr, meus cativados esperam. Por uma nova estória, um novo carinho. Um novo alguém que acredite que a vida vai guinar, e que a velha página de agulhas e salas ofuscantes será apagada por novos gestos, sorrisos e pelas suas novas lindas histórias.

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