segunda-feira, 25 de junho de 2012


Dois menos um, às vezes, é igual a quase nada

Silêncio absoluto. Sem telefonemas, cartas ou mensagens no computador. Nada. Nem respostas. Tanto tempo. Misto de receio e dor crescendo no peito. Ameaçando o amor. Amor? Não é amor o que se sente. Mas é parente.


- Márcia Maia
eu sei
tu sabes
eles sabem
todos me odeiam
[inclusive você, que esquece desse fato
após um leve vai-vem de lençóis

ele faz por querer; me chuta, arranha.
depois mordisca minha orelha e me lança aquele olhar de mil cores,
e um sorriso azul como o céu.

eu só pensei naquele sorriso, e na forma como ele me transforma, e comecei a sorrir também, sozinha, no escuro. lembrei da forma como aqueles dedos passeiam das minhas costas até meus cabelos.
aquela boca fina me chamando de coisas absurdas, coisas que não esqueço.
uma língua multicolorida quase descendo pela minha garganta.
e eu deixo.
querendo ser sugada eu deixo.

eu me sinto tão sozinha andando pelo meio dessa gente. é como se meu lugar não fosse esse. como se eu fosse o corpo estranho do lugar. acredito que se eu me pintasse de azul chocaria menos as pessoas, dispersaria menos comentários, menos questionamentos. quem sabe mais aceitação.
quem sabe eu seja a idiota no mundo. e todo o resto esteja certo, limpo, calmo.

era uma vez

Eu sei lá, mas parei de acreditar em contos de fadas.
Não me vejo mais como princesa e os homens mais parecem sapos.
Não creio que terei um final feliz, nem mesmo um comecinho que seja.
O encanto não acaba à meia noite pelo fato de nunca haver existido.
Não perco meus sapatinhos de cristal, só uso tênis.
E já não creio no beijo salvador porque isso não é correto.
Hoje, todas as minhas maçãs parecem estar envenenadas e eu me deixei seduzir pelo lobo.
Pintei meus lábios e me equipei com uma meia arrastão.
Hoje, eu só dou o meu amor se receber sexo.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

vivemos naquele emaranhado de mentiras
rodeados de verdades e negamos fatos
pelo simples fato de não querermos saber
[ou não termos paciência de contar
hoje eu deitei o tempo no meu colo
e deixei o pobrezinho chorar baixinho
queixar-se dos problemas que os outros
o encarregam de resolver

terça-feira, 19 de junho de 2012

quem sabe você vire a esquina e conheça outra pessoa;
ela será perfeita, linda, maravilhosa.
ela não fala palavrão, ela é magra, ela respeita os pais e vai à igreja.
ela não é louca, não escreve nada chocante nem idiota.
ela não lê e parece uma princesa.
ela vai cumprir horários e vocês só vão ter coisas mais quentes no primeiro ano de namoro, ela vai pedir perdão depois disso e você vai respeita-la como nunca me respeitou
você vai entende-la como nunca me entendeu
a ela você não vai chamar de louca ou besta
a ela você vai jurar lar, amor, família
e vai cumprir.
porque ela é contida, é uma mocinha.
ela reza por você e sonha com anjos.
eu sou a mancha, a descrença.
sou o desespero, a angústia
o medo. teus pesadelos
eu sou tudo o que tu nunca pediu e ganhou do teu deus.
amor á primeira vista. ao primeiro toque. á primeira palavra. ao primeiro olhar. ao primeiro texto. à primeira música. amor ao primeiro abraço. ao primeiro beijo. amor à primeira taquicardia. à primeira crise de ciúmes, de insegurança, de identidade. amor à primeira noite em claro, à primeira risada.
amor. mesmo quando houverem mais decepções que bons momentos.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

I -
Quem sabe algum dia eu te esqueça. Quem sabe um dia eu seja atropelada por um caminhão e perca a memória. Quem sabe um dia eu seja internada com Alzheimer e agradeça por esse blackout.
Quem sabe, em outra vida, eu não te ame mais.

II -
Quem sabe, um dia, você me esqueça. E aí você vai casar e ter um filho e um trabalho legalzinho.
Em outra dimensão, eu serei uma Hippie que vive de trabalho manual e mora na rua. E, talvez um dia, você irá passar por mim e vai me dar uma esmola. Eu estarei suja, mas meu olhar terá o mesmo brilho. Depois, você vai seguir seu caminho e eu lembrarei de você. Dos nossos beijos, e das três vezes que nós dormimos juntos e das manhãs ensolaradas.
Enquanto eu estiver comendo o pão comprado com o dinheiro da tua esmola, eu irei imaginar estar chupando o teu pescoço. Eu vou desejar você, ao menos uma vez.

III -
Quem sabe, um dia, você me esqueça. E aí você vai estar casado, com um filho e um bom trabalho.
Em outra dimensão, eu serei uma poetisa suicida e na praça haverá uma estátua em meu nome. E aí, um dia, sua esposa estará passeando na tal praça com seu filho e os pássaros estarão fazendo cocô na minha cabeça de estátua. Seu filho vai perguntar 'mãe, quem é essa?' e ela vai responder 'Essa é a Lady Di, meu filho. A moça que inventou a televisão. Ele vai dizer 'nossa mamãe, você é taãããããão inteligente!' E eles irão passar direto, seguir um caminho. A noite, ele vai te contar a história que a mãe contou, de como Lady Di inventou a TV. Você não vai lembrar de mim, e, mesmo no túmulo, eu ainda vou te querer.

IV -
Quem sabe, um dia, você me esqueça. E aí você vai estar casado, com uma filha e uma firma própria.
Em outra dimensão, eu serei uma escritora. Você terá meu livro enfurnado no escritório e sua filha, que chora por amor, irá encontra-lo. Ela começará a ler, mas logo irá enjoar.
Esse livro é meu, quem sabe. Sua filha viu minha estátua na praça e sabe minha história. Mas ninguém sabe o porque daquela estátua ali, e isso nem importa. Ela irá parar de ler o livro porque ele fala unicamente de você.
Acontece que esse livro não vende bem, é demasiado bobo, e a jovem escritora acaba se matando de desgosto.
Sua filha verá a notícia do suicídio nos jornais e os livros irão vender como água.
Nessa hora, você irá lembrar de mim. Dos modos que eu te apelidava, de tudo o que eu te escrevi, dos livros que eu li, da bagunça em minha vida.
Você vai morrer de saudades, e já será tarde demais.
Porém, mesmo morta, você ainda será meu sonho.

conclusão

Quem sabe, um dia, você lembre de mim.
Você estará casado, sem filhos, com um emprego no Centro da cidade.
Em outra dimensão, eu serei uma escritora famosa e nem lembrarei de você.
Um dia, eu estarei andando pela rua e encontrarei você. Seus olhos irão brilhar e nós iremos tomar um café juntos. Você irá me contar toda a sua vida desde a nossa despedida e eu irei sorrir e lembrar os velhos tempos, em que eu amava feito louca. Na saída do café, nós iremos nos beijar e faremos amor nas escadas do prédio onde fica o teu escritório. Você irá sorrir e nem lembrará da esposa.
Vai chegar em casa e contar a ela toda a nossa história. Ela vai morrer de ciúmes, mas depois esquece, afaga teus cabelos, faz tua janta.
Você não será mais o mesmo.
E eu já nem terei os fantasmas das tuas lembranças.


Quem sabe ela gosta da confusão do mundo. Talvez ela seja a perturbação em pessoa, o azar em forma de gente.
O sorriso dela não valia quase nada e cada palavra saída daquela boca parecia ter vontade própria.
Ela morre de vontade de esquadrinhar verdades e assinar atestados de óbito.
Todos os dias, ela sangra um pouco.
Todos os dias, ela sofre mil decepções.
Ela é assustada, morta, pisoteada.
É vendida, hipócrita, consumida.
Todos os seus caminhos são despedaçados.
E, mesmo com tudo isso, ela levanta junto com o sol
e põe na cara a melhor maquiagem do mundo: um sorriso

Me deixa ser o teu perfume, teu lençol, tua mania. Me deixa ser teu shampoo, toalha, sabonete, pinguim de geladeira. Me deixa ser teu suor, teu sorriso, teu tato. Me deixa ser tua agenda, tua sina, teus rabiscos. Me deixa ser tua letra, tua melodia, tua música. Me deixa ser tua revista, teu teclado, teu chão.
Me deixa fazer parte da tua vida, me deixa ser o suporte que segura a tua televisão.

Hoje eu tentei fazer mil coisas, te tirar do meu foco, mas só imaginava você.
O que você estaria fazendo, se ainda dormia,
se sonhou comigo, ao menos uma vez.

Todos os meus escritos tem mais você que qualquer um.
Se eu quiser ficar rica com poesia, conto ou fábula, preciso rever isso.
Afinal, ninguém vai querer ler um livro que descreva, de cabo à rabo, uma pessoa só.
Vi que alguma coisa havia mudado
Quando eu comecei a contar as horas pra te encontrar.

Contigo, aprendi coisas simples.
As letras, o tato. Teu cabelo cheirando à shampoo.
Você me mostrou como parar tudo e como me isolar em mim, me dar um tempo. Ensinou-me a me encontrar. Me disse que já não sou uma sem jeito no mundo.
Você me fez crescer, me equilibrar em meus pés. Me viciou no beijo de uma certa pessoa de cabelos negros.
Você adivinhou tudo o que eu sentia falta. e completou sem perceber.

sábado, 16 de junho de 2012


Á noite, eles se viam, se enlaçavam, juravam em silêncio e até tinham medo.
O beijo de despedida durava até o amanhecer.
Cada um pegava seu caminho e, quando chegavam em casa, jogavam as coisas, ditas e sentidas, em papéis secretos.

asiática peituda :a

Antes de você, eu era saudável. Meu coração não pulava e eu nem ligava pra música, não arrumava meus cabelos ou minhas roupas. Esquecia as chaves, a vida, o celular. Nem sorria e era grossa. Só sabia falar e pensar ser dona de tudo. Antes de você, eu tinha horas vagas. Lia livros de guerra e queimava os romances.
Eu mal tinha ciúmes, não era possessiva, não era carente. Não me importava com poucas respostas ou ironias.
Antes de você, eu sempre tinha razão e nem ligava pro amanhã.
Eu não morria de saudades ou vontades. Antes de você, eu achava que vivia. Não agia por impulso e não me importava tanto com ninguém.
Antes de você, eu era impaciente e não conhecia bem o poder de um abraço. Não pensava que meu mundo poderia girar por um sorriso. Não imaginava que amaria alguém tão cheio de erros...

A verdade, é que eu era vazia. E só me conheci ao te encontrar.

eu quero que catástrofes aconteçam e que você se envolva em um furacão.
Quero que você rasgue o que eu te li, e que esqueça o lado bom de mim.
na verdade, é bom mesmo que esse mundo acabe agora
- Não vai durar muito, você sabe disso. Daqui a pouco amanhece e eu preciso voltar pra minha existência fútil.
- Vai durar sim. Eu vou fazer essa noite ser eterna. Pega na minha mão. Vamos embora, afinal, loucos fazem loucuras
Não baixe a cabeça. Não me cobre.
Não queira desculpas, punhais ou panos.
Não lute. Não negue.
Não se envergonhe de ser um ser amado.
Hoje eu decidi
que a última imagem que eu quero ver
é a do teu rosto

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Hoje eu resolvi fazer tudo errado.
Hoje, pra mim, nada serve
Não tenho um colo e nem a quem recorrer no fim do dia.
Não tenho nada.
[e minhas ideologias estão mais furadas que o fundo das minhas calças]
Você não deveria ter prometido
Mil coisas que não poderia cumprir
O mar arrebentava
O vento soprava
As folhas faziam barulho.
E eu me concentrei em suas mãos
Que subiam e desciam, abrindo novos caminhos em minhas costas.

Eu falo outro nome
Querendo gritar o teu
Depois de um tempo, o poço seca e você se nega. Depois de uns dias, tudo tudo fica cinza e você se fecha. A alma fica suja, podre, insensível. Você domina a arte de fugir de tudo o que te faz feliz e abraça o negro, a obscenidade, a escuridão. Nem tudo reluz e você se vê na beira do abismo, pronto para se jogar.
Ontem eu pensei em descrever mil coisas antes de dormir. Senti um míssil rasgar meu peito e afoguei as mágoas em meus lençóis. Senti uma súbita tristeza e uma imensa vontade de cortar alguma parte de mim. Mas passou. Sofri todos os resultados e engoli o pranto três vezes. Mais uma vez, me convenci (ou tentei) de que tudo está bem. Mas que me vê nem imagina que eu me perdi e que estou só. É que ele jurou não me deixar e me prometeu coisas demais. Mas se foi, deixando o peso do mundo inteiro em minhas costas.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

lara

cozinha. tarde. falta d'água.
Lara lê um folheto de alguma Igreja.
- Huum. Olha Gabi! Aqui tem dizendo assim: Como você se sente? Infeliz? Solitário? Orgulhoso? Angustiado? Presunçoso? Decepcionado? Sem esperança? Cansado e oprimido? Desencorajado e magoado? Com uma fardo pesado de pecado?
- Sim, entendi. E daí mocinha?
- Eu não tô sentindo nada. Não sou infeliz, nem solitária, nem orgulhosa, nem angustiada, num sei o que é presunçosa, nem decepcionada, eu tenho esperança, tô bem descansada e nem sei o que é oprimida. Não tenho mais medo do escuro e nem sei o que é pecado, Gabi.
- Tô ouvindo, Lara. O que isso tem haver?
- Então quer dizer que só procuram a Igreja quando tão assim, tristes? Por mim eu nunca mais vou na Igreja e continuo feliz.

domingo, 10 de junho de 2012


a gente prometeu que não ia mais fechar nossas cabeças.
prometeu que tudo o que for sentido será dito
e que nada mais será tão difícil.

eu tô indo agora, tô atrasada pra viver. desculpa te deixar nessa estação, mas eu tenho que ir.
mas, faz favor? promete que vai ligar pra eu escutar tua risada, tua voz, teu dengo?
promete que vai dizer quando sentir saudades.
eu não sei viver sem ti, sabe. tipo, sem falar contigo, sem saber do teu dia, das tuas aventuras, o que você fez, como está se sentindo e se o inverno já chegou ai na tua cidade.

Beijo.
Riso.
- Você é de verdade menina? ele perguntou.
Beijo.
- Sim. ela riu.
- Então me dá uma tapa.
Ela bate levemente em sua face. Ele abre os olhos.
- Você é de verdade mesmo. E não é um sonho.
Beijo.
Beijo.
Riso.
Beijo.
Abraço.
Beijo.
- Claro que sou real.
Beijo.
- Eu te amo.
- Eu te amo.
ela limpou a lágrima e ele lambeu seus dedos.
pediu desculpa, beijou-lhe os lábios. afagou e cheirou seus cabelos.
e jurou que seria melhor, e prometeu que a amaria até o sol nascer.
mas ela já estava bem. ele já estava perdoado á horas. e foi envolvido em um abraço.
eles sorriram um pro outro, ela limpou a última lágrima. ele lambeu seus lábios.
e tudo estava bem mais uma vez. o dia tinha cores e cheiros bons.

dei um tempo.
ou quem sabe o tempo se deu pra mim.
tá doendo, tá machucando, e eu não curto muito esse troço de amor escancarado o dia todo.
preciso de espaço, de ar, de fluxo.
de chão, de céu. de papéis.
olha, eu vou dar uma volta, não me segue.
tô resolvendo minha vida da forma menos louca e banal possível.
se afasta, nem toca. não queira conhecer minha confusão a fundo.

ela já chegou pisando forte com o coração na mão.
tinha medo, receio, fome. sentiu sede.
e ele lhe sorriu, e ela não lhe deu as mãos.
sentaram-se e ela começou a desfiar um rosário longo e chato sobre os problemas e sobre como tudo era uma merda e sobre como o mundo estava errado e sobre como ela se sentia invisível e mal e só e cinza.
ele percebeu na hora que o fim estava ali, em cada palavra da menina, nas lágrimas que caiam, no modo com que ela mexia naquele velho anel com uma borboleta de prata.
ela não queria, mas era necessário.
disse que eram amigos.
ele calou-se de vez.
ela deu as costas.
nem olhou pra trás, tampouco disse adeus.
é impossível dizer adeus às coisas que você nunca se imaginou sem.

Sir

eu gosto de tudo em você;
seus movimentos e seus brilhos e olhos e dedos.
e gostos e bobagens.
e voz. e silêncio.



'' Eu gosto quando eu leio algo que você escreveu e que eu sei que é pra mim. ''

quinta-feira, 7 de junho de 2012


sete

Eu pensei em escrever algo cheio de mimimi, mas vi que isso pouco importa.
O que importa foi o que nós lutamos, o que andamos e o quanto conhecemos.
Confesso que eu me surpreendi com muitas coisas, mas isso tornou-se balela.
Aprendi o valor da confiança e da paciência. Ah, sim. Paciência acima de tudo.
Consegui valorizar mais as coisas pequenas que nós tornamos grandes.
Antes eu gostava que você me olhasse e me fizesse juras.
Hoje, eu quero que você me olhe e não diga nada. Não precisa.
Acho que lhe devo agradecimentos. Não irei agradecer sua presença em momentos difíceis, e sim nos dias em que meu sol brilhou.
Estúpida. Idiota. Eu.
Bobo. Perdido. Você
E isso encaixa? Eu não sei.
Se eu o amo?
Não direi. Não hoje.
Recentemente as palavras ditas perderam um pouco o valor pra mim (veja só que ironia).
Então, dilate as pupilas. Veja. Sinta.
Feliz Dia Sete, sei lá.

Eu não quero que acreditem em mim. Não quero ser caixinha de segredos nem nada. Não quero ser conforto, calmaria ou luz.
Não quero ser ponto de equilíbrio.
Estou cheia dessas cobranças.
No final, eu tenho o prazer de fazer tudo ruir mesmo.

quarta-feira, 6 de junho de 2012


Quando alguém quer saber o que eu já fiz,
eu jogo meu cabelo,
tento abrir um sorriso e digo: Passou, foi, perdeu. É passado né?! Eu não vivo mais lá!

eu quero que você veja que meus olhos mudam todos os dias
quero que você não canse de me descobrir, e que inove também
eu gosto de gente! de cheiro! de tudo
me apaixono a cada cinco minutos e não vejo problema nisso
eu gosto de quem se joga, procura
quero uma pessoa que se entrega, sempre
mamãe jé nem me quer mais
e me jogou no abrigo de titio
papai já nem me gosta mais
ou talvez nunca gostou, que seja
já ferrei
fui ferrada
chorei
e ainda nem fui acariciada
tudo isso aconteceu
mas eu ainda sinto uma porra de uma súbita vontade de tentar de novo

Eu queria estar ao seu lado quando você me lê.
Queria ver sua reação, o vermelho no teu rosto, ao saber que tudo isso é teu.
Adoraria ver você lendo duas três vezes seguidas e lembrando de mim, imaginando minha voz.
Eu sempre te imagino dormindo nos dias em que eu escrevo, e você lê.
E, pra mim, ao lembrar de nós, você aspira meu cheiro de alguma forma, e sorri até adormecer, certo de que vai me agradecer sem querer e sem palavras no dia seguinte.

Se tiver raiva, joga tudo em mim.
As dores, as frustrações. Cospe que eu não presto, e que eu sou teu atraso. Que nunca mudo, que sou errada e má e doente. Me chama de louca.
Mas, por favor, quando eu sair, me liga e diz que se arrependeu. Que me entende, que foi momento. Diz que eu sou sua, sua menina, sua princesa. Me pede pra voltar.
Quando eu voltar, sorri e olha pra mim. Me deixa tocar a curva da tua boca, me deixa ser sugada pelos teus olhos.
Me puxa pra perto de ti, me abraça e me beija sem pressa.
Saia. Seja livre. Veja lugares sem mim, conheça novas pessoas.
Mas, quando chegar, diz que foi uma droga, que sem mim não teve graça, que sentiu falta das minhas piadas bobas e da minha risada escandalosa.
Admite, grita, diz. Que me ama.
E eu te mostro, amostro, que o amo muito mais.

E mais uma vez, você me prendeu.
Beijou meus lábios e me fez pensar em poesia.
Quem sabe, eu te faça pensar em borboletas, cores, numa melodia.
Seus olhos densos caíram sobre mim e eu esqueci do mundo mais uma vez.
Concentrei-me em sua mão esquerda e na curva da sua boca com um doce dentro.
Você mal vai embora e eu já sinto tua falta. Choro a tua ausência e escrevo tua presença na areia.
A forma como você é mais alto do que eu, e de como eu fico na ponta dos pés pra te alcançar, pegar seus lábios.
Teu cabelo cheirando à banho recém-tomado e sua calça riscada à esferográfica.
Seu sorriso abrindo das bobagens que eu falo e o teu olhar, como se jurasse que nunca mais vai me soltar.

Você precisa me ajudar a sair dessa.
Meus olhos sangram e minha voz ameaça falhar.
Tenho tomado remédios pra dormir e já nem quero levantar.
Isso virou uma selva e ele, que jurou nunca me esquecer, está me deixando ir.
Nossos mundos mudaram, e ele não aceita o meu.

Ela adorava um mistério, por isso, acabava se tornando um.
Era imprevisível, meio ativa, totalmente louca. Levava o mundo nas mãos e se perdia nos próprios pés.
Andava sempre acompanhada de borboletas, mesmo no escuro.
Aguçava beijos. Cheiros. Tato. Tédio.
Brincava. Com canetas, papéis, dois livros distintos.
Vivia.
Ou quem sabe morria, a fim de se perder.

É que eu me sinto excluída do mundo e nem por isso eu levanto a mão em busca de atenção.
Tudo tem medo, escuridão, ódio e solidão.
Não precisa enganar: há névoa e o olhar não brilha.
Tudo escuro, fado, louco. Consumido, consumado, acabado e destruído.
Quando chega a hora chega a hora, e você tem que me deixar ir embora.

Todos os dias ele passa por ela, e é como se ela nem existisse. Afaga-lhe a cabeça e toca seus lábios. E pensa que isso a alimenta.
Ele diz que a ama com uma leve dose de sarcasmo. Ela, deixada, é a única que não tem casa ou colo no fim do dia.
Suas vidas se encontraram no maior verão e hoje são puro inverno. Ou inferno.
E lá vem ele, mais uma vez, beijar-lhe a testa. E isso já nem basta, e ela se desfaz. Se fecha, sorri menos. Se encosta em um mundo cinza, lindo, dela.
Ele nem vê, mas a moça se vai. Ela não sabe o que quer, não tem caminho, qualquer coisa serve. Ela merece luz, poema, porre. Ela tem um oceano bem profundo, quem sabe negro. Sim, ela lê e escreve.
E ele parece nem dar bola, pobrezinha. Ele não vê o mundo dela, cinza, gigante. Inexplorado em muitos pontos, torto em outros.
E ele nem percebe, ou se percebe, não demostra.
Na verdade, ele a chama de louca. Mas não quer aceitar a poesia nos gestos lindos, da feia moça triste.

domingo, 3 de junho de 2012

ele me grita, se emburaca, espixa. e eu me esforço pra fazer algo de bom, quem sabe notável. quem sabe, plebeu? me diz aí quem sabe?
porque eu te espero toda noite, deixo minha janela aberta, a porta escancarada, o coração livre. e nada nada de você.

zero horas

minhas fotografias estão ficando velhas e as lembranças se vão. quem sabe eu deva agradecer quem sabe não. ele me apunhala, me fere, me chupa e me chama de animal. me beija, me faz engolir choros. me chama de estúpida e me acha um diabinho só porque eu não rezo. ele não se acostuma com meu eu. e eu o espero. até que meus dedos fiquem velhos e que ele fique impotente. e eu espero. até o dia em que o vento parar de bater. ele me joga, me fala e eu dou um risinho no final, finjo que não doeu, parece até que nem foi comigo. mas quando chega a noite, eu já nem tenho mais vontade de nada e choro sozinha em meu quarto. deito exausta e levanto, sem dormir, junto com o sol. e ninguém imagina o quanto dói e quantas dúvidas eu ainda tenho. e ninguém sabe que eu me cortei e que me arrependi e que lambi meu próprio sangue. por algum motivo que eu desconheço, ele me conhece e nem aceita. eu mudei e me questionam. eu toco o foda-se e me amam. e fazem uso das minhas opiniões e continuam a criticar minha pele ossos e cabelos. e eu continuo me sentindo só, e desalmada e mal amada e fútil e puta. e nem quero que me toquem porque eu tô frágil e depois quero que me abracem porque eu preciso. preciso deitar minha cabeça em seu peito e chorar sem dizer os motivos. quero afago, afeto, beijo. quero compreensão. o quero. mas o que eu preciso eu já nem quero e o que eu quero nem é o que eu preciso. esperam. calam. passam. ruas, relógios, caminhos, temporais. e vai você, e lá vou eu, e nada de amor.