sábado, 31 de março de 2012

Friendship






Vocês me vem
Passam como vento e me deixam furacão.
Uns com o mundo todo
Outros sem palavras.
Um ou dois destemidos, descalços;
Tudo isso lhes acentua leveza
E nem eu mesma sei o que seja.
A vida vai passar tão rápido
E cada um escolherá seu caminho
Vai haver o músico, o matemático, a poetisa;
Mas nada nada vai mudar
Nem o tempo levará
A essência do que cada um me deixou
[A aquecer toda por dentro]

(para Lucas B.)

Hide





Eu fugirei com você
mesmo que por míseras horas.
Eu quero senti-lo, na beleza de ser tudo e nada.
Quero fazer com seu ser o que me vier em pensamentos
E assim ficarei
Enchendo o peito de ar
Tendo uma única certeza:
O lugar onde habitava o medo mudou
[agora está cheio de intensidade

susto





Eu não sei moço.
Isso tá mudando
Tá mexendo comigo
E eu tô escapulindo
Antes que essa paixão
Vire taquicardia
E comece a me incendiar

sexta-feira, 30 de março de 2012

[v]idas




E como vão suas dores? Elas ainda doem? E aquelas cicatrizes, estão melhores?
Como vai o namorado, ainda estão juntos? Aprendeu uma lição? Dançou até de manhã? Tomou o primeiro porre? Escreveu? Bravíssimo! Você se jogou naquele projeto? E naquela pessoa? Huum, eu já esperava isso. Mas não tão rápido. Adorei esse corte de cabelo. E seus cortes no coração, como vão? você ainda se machuca muito? E esse moço te sara direitinho? E sua mãe? Ela continua aquela lunática? Seus filhos moram com ela? Ih! ai vem meu ônibus. Eu só quero saber uma última coisa, nem precisa me dizer agora, quem sabe em outra passagem da vida você me responda, mas pensa bem: como você acha que está cuidando de você??

Tudo




Ar. Terra. Vento
Você vem, e vai. E deixa um pouco de si pra mim.
Como se não bastassem as juras, as promessas, o cruzar de dedos, você me presenteia com olhares cruzados
Sorriso abrindo, cabelo ao vento
Tudo. E nada. E mais um pouco
Não preciso me preocupar se isso vai de hoje à amanhã: você diz que será sempre, então assim será
E que venham mil dias, passar por eles com você será fácil, cirandinha
Porque eu juro parar o mundo
Quando sinto sua mão na minha

outra





E eu te quero a cada dia menos
Eu te evito, quase nem lhe dirijo meus sorrisos.
Meus sorrisos nem são mais seus, assim como meu corpo já lhe diz adeus e minhas palavras silenciam para você.
Sua chegada me deixava feliz. Hoje, eu necessito evitar-lhe
Minha outra face está se revelando. Meu 'eu' mudando e você ficando atrás
Não sei onde estarei quando me procurarem.
A partir de hoje, meu egoismo será minha base e meu amor-próprio a mais importante coisa.
Tampouco quero fazer ideia se você vai me procurar, se tem luz ou se cresceu. Tá na hora de provar novos gostos, sorver novas expectativas e abraçar o futuro.

Berg.




Eu nem sei o que dizer: Se é você que combina com essa flor, ou se é a flor que combina com você

quarta-feira, 28 de março de 2012

ambiguidades





eu queria jogo limpo com você, franqueza, olho no olho. mas toda vez que olho em seus olhos desejo o brilho do olhar do outro. eu queria querer você. mas toda vez que penso em querer, quero o outro bem mais do que deveria. eu queria beijar você. mas toda vez que eu penso em beijo, desejo experimentar a sensação do hálito do outro descendo denso dentro de mim. eu queria escutar você. mas toda vez que você chega eu procuro o outro porque você não tem nada de interessante para me oferecer. eu penso na gente. mas toda vez minha quase história com o outro vem á tona. e eu quero não te querer. mas esse desejo é subitamente tomado quando eu penso na falta que eu irei lhe fazer.

você




Quando eu for embora
vou deixar a conta do psiquiatra em cima da sua mesa
[você não tem noção do que suas brincadeiras
fizeram com meu pobre eu]

necessidades




é preciso leitura
de mãos
de livros
de si
de tudo
de nada
de tantos
de poucos
de humanos
É necessário um novo olhar sobre esse mundo estranho
Que nos deixa tão doentes

Aracnofobia

A aranha que tece as teias de meu destino
parece não ter pena de me meter em encruzilhadas
e dúvidas e quedas.
Aranhas já me levaram á consultórios de psicólogos
já vivi tudo
já gritei de medo mil vezes
e só agora entendi esse meu pavor louco
Por aracnídeos

Feb 3, 1992 - Nevermind goes 3x platinum


ovelha negra





eu gosto de sentir sua falta
gosto de lamber suas falhas
amo saber
que é a mim que você vai procurar
nos momentos de extrema fraqueza

Heroes


Verdade



Hoje eu lhe procurei
Cheia de expectativas
Cheia de perguntas
E saí plena, feliz
Pois as dúvidas que eu sabia ter de volta
Você me deu.
Eu não quero certeza
Quero que você me dê as dúvidas
[e uma janela pra refletir

Two



Você é minha ribanceira
[ele, precipício
Você é o vento forte
[ele, as pilastras
Você é a fúria
[ele, a calmaria
Você é a doçura
[ele, o sal
Você é o exibido
[ele, o proibido
Você, você
Por quem eu rolo a ribanceira e chego aos pedaços
[Ele, meu abismo, meu soco no ar. O que não há arranhões até chegar a um chão, que por enquanto, nem existe.

Orelhinhas






Eu vou passar sempre por aqui
para dar-lhe um abraço
para afagar-lhe a cabeça
para procurar mais perguntas
e para apertar, sorrir, meditar.
aquecer minha alma
nessas suas orelhas quentes

terça-feira, 27 de março de 2012


Arte de Marcelo Stockler

Rain

essa chuva só me lembra
suas mãos em meus cabelos
e sua respiração
esquentando meu pescoço
seus pés
aquecendo os meus
nesse dias tão frios
[que fizemos parecer tão quentes

segunda-feira, 26 de março de 2012

eu te amo, tá?




eu vou com você
com meu corpo
alma coração e tudo
cada vez que sua voz
clamar por mim

Epitáfio

e quando eu morrer
não levarei porra nenhuma.
nem meus cem livros
tampouco meus CD's.
meus amores ficaram por aqui
e até quem me arrancou lágrimas
vai chorar minha ida.
não vou levar nem minha cicatrizes
que dirá esses pedaços de mundo doente!

menina

e todos os dias
eu me embriago com os ventos
e me drogo nas pessoas
arrumo meu cabelo pra cobrir minha mente sem nexo
visto uma boa roupa pra disfarçar a alma quebrada
finjo ter prazeres quando tudo que quero é dar um tapa na sociedade
é assim, meus queridos,
bastante base e corretivo
pra apagar esses destroços
que marcam meus caminhos
O que há entre nós
não é paixão
nem ternura
nem vontade
nem desejos
o que de fato há entre nós
é um mero encontro
de cicatrizes mal cuidadas

meu plebeu que nem é meu

eu queria que você me quisesse
eu queria que você me amasse
eu queria que você me agarrasse, beijasse e assim se apaixonasse
eu queria tudo e nada
[porém eu não disse nenhuma dessas vontades]
você tampouco adivinhou.
mais uma noite se passou
a insônia a mim visitou
e eu nada fiz para impedir.
fiz as coisas costumeiras
desde que você entrou sem saber em minha vida
desde que eu planejo nosso casamento secreto, sem saber se você vai querer:
afoguei-me no café
e fui dormir com a cabeça em névoa
coração em lágrimas.


Passione

'' - E quando você ama duas pessoas?
Pausa
Mais pausa
Longa Pausa
- Você eu não sei, mas eu não decido por ninguém de cara. Eu choro, e sofro e me corto. Depois eu respiro, cicatrizo e tento me apaixonar de novo por quem primeiro me conquistou. ''

8

E ontem você me ofereceu uma xícara de café forte.
Cobriu-me de dengos e beijou minha testa. Deixou-me na confusão de que meu tempo de Princesa possuída iria acabar.
Aquela xícara de café só serviu para questionar ainda mais a mediocridade em minha vida.
E serviu pra me lembrar de quando eu fui largada e de como você secou minhas lágrimas e de quando eu decidi que era mentira. Sua paixão era mentira. A verdade era mentira. E que o mundo é uma merda e que eu me corto e não decido por ninguém.
Lembrei-me que meu outro parece não viver mais e lembrei de como tudo me sufoca e do quanto me viciei em café e dos dias em que não quero mais viver.
E quero morrer. E ressuscitar. E ir. E ficar. E amar. E gemer. E morrer de me matar.
Hoje eu não preciso de perdão.
E Alá não é bom
E eu sou moça má.





domingo, 25 de março de 2012

Keep Calm and...


Mundo


Mädchen

Eu não sou igual à você.
Não sou convencional e não tenho uma só paixão.
Sou a terra e o vento
[The earth and the wind, and the wind
A chuva e as pegadas
[The rain and the footprints
Sou acolhida por qualquer pessoa que tem amor
[Love, just love
E vivo. Como se só tivesse cinco minutos de vida.





ELINOR, Carucci.






sábado, 24 de março de 2012

Van Noordwijk Krijn












Noites sem nome, do tempo desligadas,
Solidão mais pura do que o fogo e a água,
Silêncio altíssimo e brilhante. (...)
[Sophia de Mello Breyner Andresen/Paolo Domeniconi]

Saturday

E hoje eu estou bem. Ou mal. Ou talvez nem sei. Só sei que estou.
Meu telefone não toca, meu café amarga [sim, eu comprei mais] e o almoço faz bagunça em meu estômago
Ninguém me salva dessa imensa melancolia e nenhuma amiga (?) está disponível.
Meu homem amado não está aqui. Aposto que a essas horas está fazendo as suas 'quests' depois que eu disse que a noite não está boa pra mim.
Meu melhor amigo está pela rua, rindo de alguma bobagem que vai me contar depois. E nós riremos juntos e nos calaremos e riremos mais.
A mãe ressona com a irmã mais nova após tomar uma cerveja [ou foram duas?] e eu sinto pela primeira vez uma imensa vontade de tomar um porre e de dançar e de beijar e de esquecer e de me esconder.
Fiz as pazes com o namorado mais uma vez [cada vez mais minha novela mexicana fica melancólica] e mais uma vez desejei profundamente seus lábios rosados e seu cheiro quente e seu hálito doce.
Estou me achando sem vergonha e me descobri ateísta e louca e pragmática e inútil e desesperada.
Essa noite de sábado não me ajuda, e eu vou cortar meus pulsos até o amanhecer de domingo [que é o momento em que cortarei minha garganta].
Essas piadinhas de redes sociais já não fazem sentido, ou nunca fizeram, e eu me sinto chata. Nem me toque. Mas agora me toque porque eu fiquei só e carente. Mas não toca muito, porque eu me aborreço rápido.
Daqui a pouco alguém chega e eu, que tanto reclamei, nem me movo pra sair.
Desculpem seres humanos, prometo que depois escrevo algo mais motivador. Que incendeie e que me tire desse transe. Por enquanto, vamos apenas viver.







você

Eu não me importo se você é preto, branco ou azul. Se tem os bolsos cheios ou a alma vazia. Não questiono seu tipo de música ou a roupa que usa. Eu quero saber é se você é humano mesmo, se tem um pouco de alma, de percepção, que veja o sentido poético nos gestos meus. Necessito saber se você vê o encanto da chuva e se toma banho de sol. Eu não quero saber de onde você vem nem o que faz da sua bunda. Seja você e nada mais.



Peace

E no meio daquela guerra, ela só queria amor. Perdida naquela bagunça, ela só queria um ombro amigo. Atolada de opiniões, ela não queria paz. Porque paz nos deixa acomodados. E acomodação ela não queria. Ela só queria um amor, uma boa música e o fim dos homens de preto, que usam armas para apagar ideologias.





meu mundo *-*


perdeu-se

Eu levantei cedo. Banhei-me e escovei meus dentes. Tomei um café forte e espanei a casa
Sentei em frente á TV e era você que aparecia em cada parte da programação. Sentei em frente ao computador e tudo me fazia lembrar você. De como estamos ruindo e de como eu tento segurar e do quanto minhas mãos estão cansadas. Hoje eu já li dez livros e assisti dois filmes. Tentei rir de piadas e tentei buscar apoio em alguém. As paredes desse apartamento me sufocam e essa varanda parece clamar por mim. Nem a cadela quer ficar perto e meu celular não toca. E você não me sente. E você não chega. E você não me beija e não suporta meus desabafos.
Já procurei por álcool em todos os armários, mas aqui em casa temos uma política de 'não bebidas alcoólicas'
Ninguém percebe que eu te preciso, que eu necessito dos seus olhos e da sua amizade antiga e da sua velha fala mansa. De suas mãos passeando pelos meus cabelos e da sua respiração em meus ouvidos.
Eu preciso de você como nós éramos antes: bobos, alegres. Bucólicos.
Eu preciso do seu amor, do seu velho abraço. Esqueça paixão e todas essas coisas banais. Eu preciso de você  humano, aqui, comigo. Quero você sem ciumes sem perguntas. Eu só quero. Isso é demais?
Hoje tudo resolveu sacanear comigo e meu café acabou. Tô gritando e arranhando minhas paredes brancas. Já reli um livro e nada de você. Nem da sua estupidez. Nem da sua acidez. Nem nada. E nada de mim. E tudo são nuvens. E nada tem nexo. E nexo eu não quero. De você eu preciso. Pra eu parar de me embriagar e parar de me matar e de me morrer e rasgar meus livros dez vezes lidos.

True


Cry

Eu tô pedindo bem baixinho que você venha até aqui, me olhe, afague meus cabelos e beije meus olhos.
Que me abrace, me deixe chorar e que diga ''eu sei minha pequena'' antes que seja tarde.

sacode!

Eu quero levitar. Ouvir música louca e alta. Hoje acordei com vontade de sacudir o mundo (e já comecei irritando os vizinhos). Quero a noite pra andar e café forte às 4 da manhã. Hoje vou jogar o mundo pro ar e dançar sobre seus pedaços. É na bagunça que eu vou estar então não se organize. Pega na minha mão, no meu pé, na minha língua e me segue. Vou me embrenhar nas matas putas e sorver experiências.
Se tivesse um saco, coçava-o. Mas tenho dois seios e uma cabeça cheia de fumaça.
Irei mastigar as ideias, dançar sem parar e meditar em minha varanda, no oitavo andar.





Te amo
[e te como


Arte da nostalgia


[luna admirando a humanidade dos prédios com o urso, Gabi 2012]

sexta-feira, 23 de março de 2012

722

Eu gosto quando você canta pra mim, com essa voz que eu não troco por nada. Quando você me procura e me encontra das mais diversas maneiras. Quando chama meu nome e quando me manda repetir as mais variadas palavras desse meu louco vocabulário que, segundo você, é ''lyndo''.
Gosto de saber que você me aceitou sem regras e sem conceitos e gosto quando me deixa vermelha, quando me faz perder uma perna.
Gosto quando você muda o roteiro de suas estórias e quando se mete no meio das minhas. Quando fica surpreso, quando sorri e me chama de boba, ''minha bobinha''. Quando me liga, me prende por horas a fio e toca pra mim durante a madrugada.
Faço questão de esperar-lhe, faça chuva ou sol. Porque é você quem me faz sentir melhor, é você que me prende nas palavras e é você quem abre meu sol todos os dias.


Boas garotas viram más 23/03/2012

Eu quero a noite. Sem motivos e questões. Eu quero o seu cheiro, o corpo colado. Suas mãos subindo pelas minhas costas e suas súplicas esmagadoras em meus ouvidos. Quero sua boca na minha e sua língua em cada milímetro da minha pele. Preciso ver roupas pelo chão e sua voz quebrando o silêncio da madrugada. Quero o vai-vem ritmado e sua respiração densa, em meu colo. Quero grudar em seu corpo, nua, eu, e assim dormir. Aliviada, completa após esse frenesi

quinta-feira, 22 de março de 2012

Animal

Eu irei viver anos a fio pra acompanhar seus passos. Irei respirar eternamente a fim de ver sua mudança tão distante e tão prometida. 
Quero ver o monstro que você ameaça virar e quero presenciar a hora em que você irá cortar minha garganta.
Quero ver o sangue descendo, o suor denso.
Você, que ria das minhas cicatrizes e que me abraçava torto.
Eu gosto da sua mudança pois agora você está mais ou menos como eu:
Distante, frio. Triste. Mudo
Gosto que você prove do bom veneno, que me alimentou durante anos a fio. Gosto de sentir sua dor alcançar-me com a velocidade da luz. Gosto de saber que você irá rastejar por mim, e que no fim, irá para o fundo desse precipício.

Helena mulher

Hoje meu corpo já não é o mesmo. Meus dentes faltam pedaços e os nós dos meus dedos estão frouxos. Minhas carnes caíram juntamente com a qualidade de meus preços. Rapazes já não me procuram mais e há dias em que não deito com nenhum corpo. Esquinas me expulsam e as outras riem quando passo.
Não tenho família e neguei os três filhos que Deus me mandou. Sou só, sou solidão. Meu caderninho, antes lotado de compromissos com clientes, anda branco e vazio, assim como meu bolso. Ás vezes aparece um velhote e eu faço questão de cobrar caro. Nunca mais fui beijada, até eles tem medo de mim. Meu corpo exibe as marcas das drogas e mais pareço um bambu. Tenho fome, sinto frio e minha única certeza é a da minha respiração. A Augusta não é mais a mesma, e eu não sou mais a mesma. Não tenho vontade nem vida. Semana que vem serei despejada do cafofo que chamo de casa. As baratas fizeram a festa por lá e eu usei minha última reserva de crack. Daqui a pouco começarei a vomitar e me debater e ninguém irá me acolher. Cresci na vida de prostituta com a ilusão de ser Julia Roberts: encontrar um homem rico e ser feliz para sempre.
Eu não tenho homem, rico ou pobre. Eu só tenho as ruas, a pinga e a foda pouca e barata. Gostaria de viver, de sonhar e de ter um amor. Nunca amei e acho que passarei a vida assim, [des]amada. Apago um cigarro e logo acendo outro nessa interminável solidão. Enquanto penso, desço mais uma vez essas ladeiras, esses becos, na vã esperança de que irei ser feliz. No desejo de acabar com uma vida que já acabou comigo.





     





Você só vai descansar quando me ver longe. Crescida. Mulherão. Furacão.
Hoje você brinca, usa, chuta e ri. Machuca, chora e me ganha com duas palavras e três beijos.
Nossa única concordância é na cama e o mais perto que chegamos de ser amigos é quando você chora em meu ombro. Você, que eu trato como metade de mim. Você, que eu atendo todos os caprichos. Você, que deixa tantos espaços vazios. Moço, vou avisar-lhe logo: não se apavore quando me vir aos encantos pelas coisas da vida. O mundo é grande e eu quero explorar. Seu mundo é pequeno, e pra mim já não dá. Essa sua brincadeira de 'bem-me-quer mal-me-quer' já deu o que tinha que dar e eu tô pensando em pular fora. Fora dessa infantilidade, dessa inutilidade. A vida tá correndo e eu vou atrás dela. Se quiser vir comigo, bem. Se não, minha companhia será a melhor coisa do mundo.Eu, sem o medo de me magoar. Eu, sem o fantasma do nosso passado. Eu, mulher, guerreira, sem complicações no futuro.







quarta-feira, 21 de março de 2012

Cadu

  Carlos Eduardo. Também chamado de Cadu. Carlos Eduardo. Que nunca dizia sua idade e que só sabia coisas de relacionamentos. Sua lógica era imbatível e seu corpo muito mais. Cadu nunca teve uma paixão e só contava relacionamentos a partir da quinta semana. Ele desprezava romances e raramente dizia algo sobre si. Em algumas horas amava sem tréguas e em outras se fechava no mais louco mundo já visto. Cadu era frieza e sinceridade em pessoa. Prático e belo. Quase nunca dizia 'eu te amo' e achava exagero o sentimento das pessoas. Algumas línguas era ferinas e desejavam navegar aquele corpo. Cadu sequer notava.
  Eu já fui uma moça de Cadu. Cravei meus sentidos nele no último verão. Ele, a beleza viva e eu, a ingenuidade pura. Conheci Cadu na praia, jogando suado e brilhando. Assim que vi aqueles olhos castanhos, fervi toda por dentro. Ele percebeu e nós nos beijamos naquela mesma noite. Saímos mais três semanas seguidas. Eu me abria para Cadu e ria de seus poucos gracejos. Naquelas semanas fui conhecendo as regras de Cadu, e começamos a namorar. Ele, distante e dividido entre me querer ou não e eu, envolvida até os cabelos e amando calada. Porém, um belo dia, após dormirmos juntos pela primeira vez, Cadu sussurrou que gostava de mim. E que isso complicaria tudo entre nós. Forcei um sorriso amarelo naquela escuridão e disse que tudo bem, que eu entendia e que não me importava.
  Após essa noite, Cadu tornou-se mais distante e passou três dias sem dar notícias. Ele não ligou e eu não fui atrás, não queria demonstrar nada. Eu sofri e muito, mas sofri calada.
  Um belo dia, Carlos Eduardo apareceu e tirou-me da zona da tristeza. Beijou-me sem tréguas, disse que me amava e desbravou meu corpo. Mordeu meus lábios e chorou em meus cabelos. O vai-vem daquele corpo foi ritmado e eu repeti que o amava também, odiando deseja-lo e odiando aquela admissão. Cadu ergueu-me em seus braços e levou-me ao chuveiro. Beijou meu pescoço, lambeu meus lábios e mordeu meu corpo. Depois disso, secou-se, vestiu-se e terminou comigo. E eu? Disse que tudo bem, que não me importava com ele. E desejei-lhe sorte.
  Assim que Cadu saiu, eu chorei e me odiei e me masturbei. Abri meus olhos e aceitei a terrível realidade: eu me apaixonara por Cadu, que agora não era mais que Carlos Eduardo. E que fez questão de me amar de longe, como se fosse só minha a culpa de haver sentimento nessa história.





nesse mundo doente
você deveria ser minha válvula de escape
[mas se mostra mais destruído sem motivo do que qualquer um]

não mais

Todos os dias você olha pra mim e afirma não ter nada. Quem vê pensa 'que triste, tão jovem e tão infeliz'. Mal sabem que a triste sou eu e que a vida infeliz é a minha, que eu faço questão de disfarçar sorrindo. Você de diz pobre, mas tem o meu amor e a luz do sol e ar em abundância. Você, que mal tem gratidão, que adora me passar a faca. Você se diz mal, mas fui eu quem me quebrei toda pra expelir três pedras nos rins enquanto você saia e entrava quando queria e não me oferecia nem uma bolacha um aperto de mão. Eu, condenada a lutar sempre e você, encostado na sua preguiça. Eu, que quase me desfaço pra refazer tudo. Você, que condena, esnoba, humilha e destrói. Já me perguntaram o que eu ainda faço ao seu lado, me acabando, dando todo o meu ser. Sendo sua mãe. Eu também não sei. Acho que isso é um ensaio, um preparo, um passo a passo, do que eu irei fazer bem, quando encontrar meu homem de verdade.

terça-feira, 20 de março de 2012

Litoral

Você chegou perto
Furação ventania
A fim de ganhar em cima dos meus dons das minhas linhas.
Queria que eu te proporcionasse
uma forma de subir
de ganhar
não mais perder.
Só não achava que dessa coisa
Ia sair esse amor louco
Essa paixão programada
Vontade de querer bem.
Você...
[Me dá uma imensa vontade de viver

feminae

Você vai procurar melhores
Mas só vai encontrar assim
Loba-gata
Porra louca
Puta-quieta
Como eu

Me-Nina

(para nina rizzi)
Eu sou essa que você vê:
Com os cabelos ao vento
As roupas amarrotadas
Os pés descalços
E conhecedora de caminhos
Que só os sonhadores
[e guerreiros
Sabem onde achar

Metamorfose

Quero ser um pássaro
Uma borboleta de asas azuis
Uma fada prateada
Um curinga
Uma flor
Um espelho
Uma bela princesa a cada dia

Já vai garoto?

Você tem medo de mim.
Sabe que eu tenho coragem
[e vontade
De te rasgar em meus dentes.
Você tá indo embora
E tá sendo melhor assim.
Eu fico melhor acompanhada
Da minha alma verdadeira
[porém corroída

Encantados

Ela não era convencional
Enquanto as outras esperavam príncipes
Ela caiu na vida.
Ouviu 'nãos'
Arregaçou as mangas
Lutou, correu
Caiu e levantou.
Ela queria mais que ser um rostinho bonito, menina obediente
Ela queria quebrar limites,
Chegar longe
Onde nada sugaria sua liberdade
Onde ninguém mediria seus sonhos

Contos de Fadas

Desde menina, foi mantida em uma torre
Todos duvidavam da força da princesinha, quando,
Em um ataque de fúria e liberdade,
Matou o dragão de seus medos
Usando suas próprias mãos

Constatei

Quando fico longe de você
Tento ficar 'punk':
Nada importa. Toco o foda-se
Tudo isso porque, longe de você,
Eu fico muito frágil

DCCXXV

e hoje eu amanheci
como a muito não me acontecia:
após levar sua luz durante toda uma noite
levantei-me mais eu
mais mulher
mais determinada
[mas não menos indecisa.

espelho torto

Se o que eu quero de verdade
Você não pode me proporcionar
E literatura
Poesia
Música
Não fazem parte de nossa rotina baseada na cama,
Se nada em nós encaixa
Eu te uso como paixão
E amo a outro
Com a profundidade de uma alma
Da forma como jamais amaria o oposto
Que encontro em você.

half and a half

As ideias vem e voltam, passam batido e se jogam na parede.
O senso perde o rumo, o claro fica escuro e você nem vê mais seu chão.
A porta aberta, fecha.
O certo fica errado.
O anjo virou diabo.
Números invertem
E sua cabeça dá um nó
Já passa das duas e nem sinal dele
Mais café. Mais dinheiro. Mais fama.
Duas aspirinas
Almoço embrulhando o estômago
Conta
Casa
Cachorro
Paciência?
Meio dia e nada dele
Agora chega
Moço, eu não estou ligando se me amas.
Hoje eu acordei corajosa,
Meia mulher.
O mundo me espera
Com novos caminhos
Pra eu desbravar.

segunda-feira, 19 de março de 2012

Nervos


Quando você me olhou, minha cara de segura
caiu em apavoramento
Foi nessa hora que Mona Lisa riu,
e Leonardo a eternizou
...
de um jeito sinistro
enigmático
prático
[um segredo partilhado
por Leonardo
Mona Lisa
e eu.

change


mudar, mudar, mudei
a mudança é boa, e eu não sinto mais medo.
não se assuste se daqui a cinco minutos meu olhar mudar
de gata pra loba
de doce pra amarga
a mudança é boa, e eu recebo-a de braços [e vida
abertos

Every day


Um dia eu acordei mais vazia que o normal. E mais mal que o normal. Nesse dia vi que o sol não brilhou, e isso não me preocupou diferente do que eu pensei que faria. Eu levantei [não me ergui pela primeira vez em dias] e questionei a por que das coisas. Percebi que estava irritada, sozinha e acalorada. Que a solidão me corroia e que tudo parecia devagar.
Larguei as chaves em algum lugar, e os sapatos em canto nenhum. Tava tudo muito confuso, mas pela primeira vez isso não me deu medo. Lembrei que larguei minha vida em alguma esquina e nem isso me fez sentir saudades de mim. Eu mergulhei minhas mágoas em xícaras de café [vodka me fode os rins] e meus medos embaixo do chuveiro. Sentei na minha janela desejando ser passarinho e não mais ter compromissos nessa cidade.
Queria sentir medo, frio e quem sabe saudades. Mas depois de algumas tentativas, a alma vai ficando árida, usada. Com vontade de ir embora, dar lugar à outra. Mas essa outra não vem, e aqui eu continuo. Sentindo-me arrastada por pés que eu sei que já nem são meus.
Meu corpo tá na frente, e a alma encostada lá atrás. E nessa profusão de dias, eu esbarro em pessoas pelas quais valeria viver, mas que meu tempo não permite. Esbarro em momentos que enchem os olhos de qualquer mortal, e a mim nem ofuscam a vista.
Estou só, estou assim. É a idade, amigos. Aqui dentro bate um coração velho e ressequido. Mas eu ainda tenho esperanças de que amanhã, ao menos uma vez, o sol irá brilhar de uma forma melhor, que eu possa tocar e transformar em energia viva, que faça girar em mim essa roleta morta de segredos. Que uma vez na vida encha-me de intensidade. Hoje eu quero ser independente. Dar tchau. Virar as costas pra uma possível decepção.

Twin


E o que mais falar?
O que mais não foi citado?
Sinto formigar em minhas veias
Que nada com você será em vão
E que suas palavras
[Espero que logo logo seu sorriso
Iram reinar para sempre
Nesse mundo que eu gosto de chamar de meu

Helena


Outra esquina. Outra pinga. Outro cigarro. Aquele era o nono cliente. Ou seria o décimo? Naquele abre e fecha de pernas, Helena quase esquecera como contar. No corpo, cicatrizes de quem ganha a vida no sexo.
Foram incontáveis bocas, algumas apagadas, duas ou três inesquecíveis. Uma confusão de roupas e suores e membros e gemidos e gozos. Cada esquina uma história, cada rua um destino. E naquela profusão de gente, Helena conseguia (sobre)viver.
Ela se apaixonara? Não havia como saber. Depois do primeiro aborto, a alma fica menos sensível. E na terceira vez que cuspia uma criança, Helena pensava se ainda restava alma naquela carcaça que ela chamava de corpo.
As cicatrizes das drogas, da bebida e da foda ficavam expostas para quem quisesse tocar. E Helena não fazia questão de esconder. Exibia tudo em decotes minuciosamente estudados. Aquela pele cor de jambo abrigava segredos íntimos dos seres mais fechados. Se não fosse puta, pensava Helena, seria psicóloga.
Helena passava seus dias como santa e suas noites como puta. Na lua cheia, as coisas ainda ficavam mais expostas. Era nessa hora que Helena virava loba, animal, mulher-bicho. Nesses dias as caçadas eram mais intensas, assim como o gozo e as vontades.
Nesses dias, em que a lua ficava mais branca que o normal, Helena fazia questão de exibir a vida de prostituta barata. A lua escrevia aquela história, que ela fazia questão de seguir marcando-se à ferro. E fogo. E medo. E solidão.

Vermelhos

Isso tudo começou por dentro.
Eu sabia, ela sabia, mas nenhuma de nós fez nada para evitar. Há dias que a senhora Batista reclamava da escuridão sem fim, há dias que ela me dizia que não queria mais respirar. E eu? Consultei padres, gurus e mães de santo. É uma coisa passageira, perturbação de espírito, minha filha. Mande-a fazer uma viagem, isso passa. E a senhora Batista foi do Ceará ao Rio Grande do Sul e tudo o que consegui foi chegar mais queimada do sol. Aquela ladainha voltou o sobrevoar nossas vidas, ela voltou a querer acabar com a própria existência. Tentou mais de três vezes com remédios que só lhe faziam dormir e vomitar ao acordar. Já nervosa e sobrecarregada perguntei Por que a senhora não corta os pulsos? Tenho nojo de sangue, minha filha. E medo também. Não quero morrer assustada. Isso tudo é cena, senhora Batista. Não é não minha filha, eu quero morrer. Porém, um belo dia, senhora Batista acordou com um sorriso invejável, tomou banho, escovou o cabelo e espanou toda a casa. Nesse dia, depois de meses, eu saí para trabalhar. Cheguei em casa a noite com um belo ensopado pronto e com o sorriso intacto de senhora Batista. A mesma cena repetiu-se por três dias. Quando cheguei em casa na tarde do terceiro dia, na plenitude do silêncio, sabia que havia algo errado. Então vi uma faca, sangue. A vertigem tomou conta de mim quando vi o corpo robusto de senhora Batista estirado sem vida com um bilhete manchado de sangue ao lado ‘minha filha, decidi lhe obedecer pelo menos uma vez, e de fato, nem deu tempo de ter medo. O sangue escorreu e eu provei. O gosto era bom. 
Desde esse dia, tenho medo de tudo que é vermelho e vez ou outra sonho com a senhora Batista, se deleitando com um copo do meu sangue.

Mulher mulher mulher


Eu me redefino. Me reinvento com as pedras com as águas com as terras. Serei sempre eu sempre essa eterna ternura gigante mistério. Dava pena saber disso, lancinante era essa dor. Bastava que ele me jogasse me usasse e me largasse para que desse um fim ao meu ciclo quase ininterrupto. Como se todos os agrados e sopas e limpezas de banheiros e fodas não bastassem. Ele queria mais. E eu queria mais. Mas nenhum dos dois disse nada. Ambos davam as costas e ambos sofriam com essa dor. Fui marcada fui calejada. Sofri calada. E com as pedras que me jogaram não consigo construir meu castelo. Falta o cimento. Cimento é vontade. Vontade eu não tenho. Gosto de ver-me sangrar e cortar-me e lamber-me. Sou uma gata a ovelha desgarrada. A que lambe as feridas e cuida da própria vida. A que não foi embalada e jogada na vida. No dia em que eu nasci meu diabinho espetou minha bunda e me mandou aprender cedo. E eu fui. E andei. E apanhei. E conheci meu homem. Meu homem que já não é meu. E ele me conheceu mulher. Uma mulher que nunca foi dela, tampouco dele. Eu que sou espírito livre, mas não gozo da minha liberdade. O tipo de mulher que gosta de apanhar na cara. Eu gosto disso. Do sangramento e das lágrimas e das feridas. Eu gosto da solidão e quero o abandono como fiel companheiro. Meu homem amado que nunca foi meu dorme e ressona. Amanhã minha vida vai seguir e eu vou comprar mais carne para encher-lhe a barriga. Amanhã não irei acordar diferente tampouco feliz. Amanhã nem irei acordar, tendo em vista esse punhal que repousa ao lado da minha cama, pronto para ser usado, para liberar minhas vísceras, meu belo sofrimento, meu sangue podre. Meu silêncio de horror.