sábado, 22 de setembro de 2012

Ei! Eu estava à sua procura, sabia? Olha! olha! Eu tô linda, né?! Vestida de noiva, pro nosso casamento. Lembra? Lembra? Você prometeu! Jurou de dedinho. Disse que seria meu e que eu te daria um filho. Ah!  você também disse que me amava. Era mentira? Eu vim aqui pro nosso casamento.Fugi de casa por você. O quê? Acabou? Não quer mais casar? Não me quer? Mas você jurou! Jurou de dedinho! E a paixão, era farsa também? Bem que minha mãe disse, que você mentia. Chega mais perto, vem. É mesmo! Mamãe estava certa! Você cheira à farsa! Ei! me larga! Eu não sou louca. Só vim cobrar a tua promessa. Vim buscar o meu futuro, lembra? Aquele que você controlou e planejou? Escuta, escuta. Se você não quer casar, a gente se mata. Sério! Escondi navalhas e cianureto na anágua. Só quero que você pague a sua dívida. Quero que sejas meu para sempre. Sempre, sempre, sempre, sempre...

Nova

Nós estávamos bêbados. Álcool, mar. E uma lua Nova. Até hoje pergunto-me como nossas lembranças cabem em uma caixa de sapatos.
Continuando, estávamos bêbados. Era sábado. Só podia ser sábado. Nós só bebíamos aos sábados.
Ele odiava a acidez do vinho e eu detestava a queimação da vodka, mas bebíamos, mesmo assim. Brindávamos á nós. À rua. Ao velho. Ao novo. Ao cachorro. Aos muros.
Quem sabe, se eu tivesse dito, ele não teria tomado outro rumo. Talvez, se eu entregasse as cartas, ele pensaria em mim com mais cuidado. Mas a vida (ou o que eu fiz da minha) não é justa.
Naquela noite, com a lua Nova, meu ser estava velho.Eu, pálida, bêbada, louca, lutava para ir, querendo ficar. Ele até tentou me deixar melhor, e isso só me fazia sentir pior
- O que a donzela tem?
- Nada
- Tem certeza?
- Sim
- É isso que você quer? Não me querer?
- Menino, a noite tá acabando. Ou você vai embora, ou irei eu.
- Assim, tão direta?
- Eu não posso te viciar em mim
- Mas somos o par perfeito: a louca e o esquizofrênico
- Larga esse copo. Beija os meus cabelos
- Cheiro de laranja
- Lavei hoje
- Sabia
- Então, vai partir que horas?
- Nem sei.
- Tu sabes, eu sei. Quando a lua mudar, eu te quero longe. E repito: se tu não fores, eu vou.
Adormeci.
Acordei na madrugada, com os primórdios do sol. E até hoje volto àquela praia. Cato conchas e seixos, como se isso mapeasse o caminho até o amor que eu deixei ir.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012


quer resposta pra tudo?
mas, por que isso?
precisamos é andar
no caminho contrário
abraçar o mistério
rir com o risco
não sinta repula
não hesite meus braços
não fuja
faça de mim seu lar
não, não tenha medo
eu amo, amo você
posso não apagar os teus vazios, e continuo aqui
chegarei mais perto
quando você quiser ficar só.
você me tem, ouviu?
me tem.
tudo bem, eu tô aqui
explode, se entrega.
mas, se ficar escuro
segura as minhas mãos
eu não irei embora
qualquer armadilha, pensa em mim
chama meu nome
que eu corro até você
que eu cuido de você
que eu te mostro constelações
até o dia amanhecer
acostumei-me a chegar em casa
com gosto de vodka, leve
coração na mão
e o teu cheiro entranhado
nas fibras da minha roupa
eu queria o mar
uma toalha branca, estendida na areia
céu azul
pôr-do-sol
e nós
felicidade, pra mim, é beijar os teus olhos.
tocar teus cabelos, morder teu lábio inferior, corado, cheio
êxtase, pra mim, é me enroscar no teu colo, te fazer de morada, contemplar teu sono solto, nas primeiras horas da madrugada
gozar, pra mim, é roubar teus sorrisos escondidos, sentir a tua respiração leve, na ponta da minha orelha
sonhar, pra mim, é pegar as tuas mãos
contar estrelas amarelas em um céu que já foi cinza

eu me dou por vencida
quando os teus dedos vasculham
o calor que aflora em minha pele
me pega
não nega
me doma
me beija
me bate
idolatra
foge. fode
se esconde
me enrosca
me toma
me ama
me serve
me usa
abusa
de mim
mistério
me dá
uma noite
sem fim
quando eu me for, nem me procures!
eu não deixarei rastro
eu não levarei nada
já que nada pertence
á essa minha vida desalmada
eu quero andar pra longe
me embrenhar
perder o caminho de mim
e nunca mais voltar
que tipo de pessoa demonstra amor odiando?
quem mais suportaria saber dos meus dias?
quem mais repetiria o mesmo gesto, a mesma palavra, diversas vezes, pra me ver sorrindo?
sabe, ele é assim
isso é bem típico
e eu adoro
quando tem você no meio,
eu esqueço o tempo, a noite
da chuva que pode cair e do fato que eu tenho casa
que não posso fazer de você, a minha morada
- você tem mãos de anjo
- anjos não fazem esse tipo de coisa. são assexuados
- mãos de fada, então
- fadas não fazem isso
- mas eu conheço uma que faz
talvez, um dia, eu acorde livre dessa gaiola
talvez, um dia, eu acorde sem querer saber de você
gosto de pensar em mim como heroína
isso até me acalma
[mas eu não me salvo
qualquer coisa é válida
qualquer caminho é rumo
pra quem já não tem nada
tentei. gritei.
lutei pra ser alguém
e tudo que ganhei
foi um vazio que não sara
- tá indo pra casa?
- tô! mas se quiser, pode ser pra sua
eu odeio cada coisa tua
arranhei os teus cd's
rasguei teu nome dos meus cadernos
passei a usar o perfume que te enoja e fiz uma tatuagem com o nome da banda que você detesta
pixei o muro da tua casa, paquerei teu melhor amigo, me aliei ao teu inimigo
ando com a turma que você odeia
hoje, eu nego tudo que te fazia bem e amo tudo que seja capaz de te quebrar
me deixa gritar
me embala. não nega
me cede teu colo, tua luz, teus dedos pra segurar meu pranto.
me deixa ser qualquer coisa. não me cospe da tua vida
me chama pra dançar, ao som de qualquer música, no meio da sala
me pendura no teu cabide, me deixa enfeitar a tua estante
acole. aquece.
minhas dúvidas, meu desespero raso
me engana, sei lá
diz, pelo menos uma vez, que pensa em mim
que risca meu nome pelos muros.
finge que se importa, ao menos uma vez.
me tira do abismo
me conta um conto
entende meus medos do escuro
eu escrevo pouco, sabe
talvez porque sinta pouco.
ou quem sabe sinta muito
e não há palavras para expressar.